5 meses após morte de italiana em Jeri, carioca Mirian França desabafa sobre racismo

Inicialmente considerada suspeita de matar Gaia Molinari, a jovem usou redes sociais para desabafar contra o racismo e o despreparo da Polícia

A carioca Mirian França, que foi considerada suspeita de matar Gaia Molinari em Jericoacoara, publicou um desabafo sobre o racismo no Brasil. Ela utilizou uma rede social neste domingo (24) para demonstrar o seu orgulho em ser negra e chamar a Polícia cearense de despreparada e racista, além de afirmar que sua prisão foi ilegal.

“Cometida por uma polícia despreparada e racista, que insiste em enxergar o negro como culpado mesmo quando não existem provas, evidência, motivação ou testemunha. Que insiste em dizer que tem ‘convicção’ de que somos culpados mesmo quando não há nenhuma prova da nossa culpa”, declarou a jovem,exatamente cinco meses depois do crime, que ganhou repercussão internacional

A farmacêutica disse que, aos 31 anos, descobriu o que é ser negra de verdade. “Ser negra é ser chamada de estranha quando você sai de férias e passa o dia na beira da piscina lendo, porque uma negra gostar de ler ‘é muito contraditório, provavelmente está forjando um álibi’. Ser negra é ser questionada sobre como teria dinheiro para tirar férias no Ceará, um estado do meu país, onde apenas turistas estrangeiros parecem ser bem vindos”, afirma. Reclama do racismo no Brasil e critica a redução da maioridade penal. “Sou prova viva de que pena de morte no Brasil é consentimento jurídico para o Estado assassinar mais negros. Eu sou a prova de que pra polícia brasileira a culpa tem cor”, conclui.

Acompanhando o desabafo, Mirian postou cinco fotos valorizando seu tom de pele. “Hoje acordei com vontade de gritar: sou negra!”, disse no início do texto. Em apenas 24h, a publicação teve mais de 2 mil curtidas e mais de 900 compartilhamentos. A prisão de Mirian gerou indignação e comoção de diversas pessoas ligadas ao movimento negro e aos direitos humanos. A prisão da doutoranda da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) mobilizou 6,4 mil pessoas no Facebook pedindo sua soltura. Hoje, mais de 9 mil continuam dando apoio a Mirian. De acordo com a família da jovem, a carioca teve sua prisão decretada “por ser negra e pobre”.

Relembre o caso
Gaia Molinari desapareceu na tarde do dia 24 de dezembro e foi encontrada morta no dia seguinte, na região do Serrote, próximo ao ponto turístico da Pedra Furada, em Jericoacoara. Mirian França foi considerada a principal suspeita de ter praticado o crime e teve sua prisão temporária decretada após cair em contradição e comprar uma passagem de volta para o Rio de Janeiro durante as investigações sobre o caso. Porém, em janeiro o magistrado decidiu que a prisão não poderia se aplicar à farmacêutica após analisar informações enviadas pela Polícia Civil.
No último domingo (24), a morte de Gaia Molinari completou cinco meses. Até esta data, a família da italiana ainda espera por resposta da polícia cearense sobre a autoria do crime. “Os pais de Gaia estão destruídos. A situação psicológica se agrava porque eles não têm uma ideia clara sobre o que aconteceu”, relata o Chefe de Tutela Coletivo do Consulado Italiano de Fortaleza. O Tribuna do Ceará solicitou informações sobre a investigação do caso à Polícia Civil, mas até a publicação desta matéria não obteve respostas.
Caso italiana
Em 25 de dezembro, a italiana Gaia Molinari foi encontrada morta na Praia de Jericoacoara, em Jijoca, a 287 quilômetros de Fortaleza. O corpo da turista estava próximo à Pedra Furada, um dos principais pontos turísticos da região. Ela estava de biquíni, canga e mochila. Gaia foi morta por asfixia mediante estrangulamento, de acordo com o laudo da necrópsia realizado no Instituto Médico-Legal de Sobral. Ela apresentava lesões na cabeça e arranhões pelo corpo.
Dois dias depois, a polícia chegou a prender um suspeito na própria localidade de Jericoacoara, mas foi liberado após realizar exames periciais e depoimentos. Na ocasião, a delegada-adjunta da Delegacia de Proteção ao Turista (Deprotur), Patrícia Bezerra, afirmou que não houve indícios suficientes para a prisão em flagrante do suspeito.
O crime ganhou reviravolta quando uma amiga de Gaia Molinari, a farmacêutica Mirian França, foi detida por prestar depoimento contraditório. Gaia e Mirian conheceram-se em uma pousada em Fortaleza, dias antes do assassinato. A polícia voltou a ouvir Mirian e chegou à conclusão de que a carioca era suspeita do crime, pois seu discurso havia mudado.
A carioca foi encaminhada à Delegacia de Capturas e Polinter (Decap), onde permaneceu por 15 dias, diante de protestos de familiares e amigos do Rio de Janeiro contrários à prisão. O juiz José Arnaldo dos Santos Soares, da Comarca de Jijoca, revogou a prisão temporária após analisar informações enviadas pelas Polícia Civil e decidir que “a prisão temporária não deve se aplicar à Mirian”.
A italiana Gaia foi enterrada no dia 17 de janeiro, em uma cerimônia realizada na cidade de Rivalta, na Itália.


Via Tribuna do Ceará

Por Rosana Romão

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