Pessoas que tiveram Dengue podem ter certa imunidade contra Covid-19, sugere pesquisa brasileira

 

A pesquisa está sendo conduzida pelo cientista brasileiro Miguel Nicolelis e ainda precisa ser revisada e publicada em uma revista científica




Em resultados preliminares, ainda sem publicação em revistas científicas e revisão por pares, uma pesquisa brasileira sugere uma ligação entre Covid-19 e Dengue. Liderado pelo cientistas brasileiro Miguel Nicolelis, o estudo aponta a possível relação entre lugares que onde grande parte da população contraiu dengue houve demora de transmissão comunitária exponencial da Covid-19. Foi identificado também um menor menor número de casos e mortes. A pesquisa foi anunciada nesta segunda-feira, 21

O professor catedrático da Universidade Duke, na Carolina do Norte, tem se dedicado desde o início da pandemia ao estudo de coronavírus no Brasil. Um dos possíveis impactos seria a possibilidade de que vacinas já aprovadas ou ainda em estudo possam gerar proteção contra Covid-19. "Se comprovada correta em futuros estudos, esta hipótese pode significar que a infecção pela dengue ou uma eventual imunização com uma vacina eficaz e segura para dengue poderia produzir algum tipo de proteção imunológica para SARS-CoV-2, antes de uma vacina para SARS-CoV-2 se tornar disponível”, explica a pesquisa, segundo a agência Reuters.

Nicolelis analisa que antes mesmo de seu projeto, outras pesquisas apontavam que pacientes que têm sorologia positiva para Dengue testam positivo para coronavírus sem ter coronavírus. Isso sugere que as pessoas estariam produzindo um anticorpo que age em ambas as patologias. “Isso indica que existe uma interação imunológica entre os dois vírus que ninguém poderia esperar, porque os dois vírus são de famílias completamente diferentes”, ressaltou ele.

Uma descoberta por acidente

 

O estudo começou a partir da disseminação geográfica da Covid-19 no Brasil e o papel das rodovias como fator de distribuição de casos. Os pesquisadores perceberam bolsões de locais vazios de casos da doença no mapa em determinadas regiões do País sem explicação aparente. Por um acidente total, como explica Nicolelis, a possível resposta apareceu ao analisar a distribuição geográfica dos casos de Dengue no Brasil em 2019 e 2020, que, para surpresa deles, ocupavam exatamente os buracos de casos no mapa de Covid-19.

As curvas de casos das duas doenças reforçaram a descoberta, uma vez que o surto de dengue entrou em declive acentuado no País no mesmo momento do aumento de pacientes infectados por coronavírus."Eu peguei o mapa de casos de coronavírus e coloquei lado a lado com o mapa de dengue, e encontrei o que a gente chama de distribuição complementar: regiões com pouco coronavírus estão cheias de dengue", contou ele à Reuters.

No estudo, foram analisados estados como Paraná, Santa Catarina, Rio Grande do Sul, Mato Grosso do Sul e Minas Gerais, com uma alta incidência de Dengue no ano passado e no começo deste ano. Em contrapartida, eles levaram muito mais tempo para atingir um patamar de elevada transmissão comunitária de Covid-19, comparados a Estados como Amapá, Maranhão e Pará, por exemplo. Esses locais tinham poucos registros de Dengue na época analisada. Entretanto, em regiões com uma concentração maior de moradores, houve uma prevalência da Covid-19 mesmo quando há uma alta incidência de Dengue.

“Os nossos resultados epidemiológicos sugerem a hipótese, que ainda precisa ser testada amplamente, que o SARS-CoV-2 compete com o vírus da dengue pelas mesmas pessoas, pelo mesmo pool de suscetíveis. Como o SARS-CoV-2 é transmitido homem-homem, ele teria uma grande vantagem para ganhar esta competição, em relação à dengue, que depende de um mosquito”, disse Nicolelis, lembrando que a pesquisa se trata de um estudo epidemiológico.

Para validar a observação feita no Brasil, Nicolelis expandiu a análise da correlação entre Dengue e coronavírus para outros 15 países da América Latina, África e Ásia, e o comportamento se repetiu, segundo ele. O pesquisador usa dados de cidades com mais de 2.000 metros de altitude, que apareceram com uma grande quantidade de casos de Covid-19, mas não tiveram Dengue, porque o mosquito transmissor não atinge esta altitude.

"Quando a incidência de Covid-19 versus a incidência de Dengue em 2019-2020 foi plotada para esses países, nós novamente obtivemos uma significativa correlação inversa exponencial. Em outras palavras, quanto mais casos de Dengue um país teve durante a epidemia mundial em 2019 e nos primeiros meses de 2020, menos casos de Covid-19 o país registrou até julho de 2020", afirma.

O Povo

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