"...Vejo o Camilo sendo o sucessor do Lula, dentro do PT”, diz Arialdo Pinho

 


Economista, administrador e cientista social; ex-titular da Casa Civil, ex-coordenador de campanhas eleitorais majoritárias vitoriosas e atual secretário estadual do Turismo; pioneiro, no Brasil, na criação de camarão e idealizador do Beach Park. Mineiro.

Nesta conversa com o Grupo Otimista de Comunicação, Arialdo de Mello Pinho fala do passado, presente e futuro do turismo no Estado. Cita avanços, gargalos e oportunidades.

Na seara política, o entrevistado destaca a janela que se abre com o alinhamento político entre os governos Elmano Freitas e Lula (ambos do PT). E crava a entrada do também petista, ex-governador e senador eleito Camilo Santana no radar da sucessão presidencial. A seguir, os melhores trechos:

O Otimista – Quais as perspectivas da próxima alta estação do turismo no Ceará?
Arialdo Pinho – As perspectivas são boas. Estamos vendidos até março do ano que vem. Este mês de novembro talvez seja o melhor que já tivemos na história do Ceará. Mudamos o patamar.

O Otimista – Como está a venda do Ceará fora do Brasil como destino turístico? 
Arialdo – Quando veio a pandemia, tivemos um problema de falta de avião. Os Boeing 777 viraram um grande consumidor de combustível. Esses aviões foram retirados. A AirEuropa, que atuava para cá, parou. A AirFrance ainda não consegue atender à demanda. Temos as companhias nacionais. A Latam e a Azul têm sido grandes parceiras do Ceará. Nossa demanda é maior do que eles conseguem transportar.

O Otimista – Como os governos federal e estadual podem atuar nesta demanda reprimida? 
Arialdo – A Gol e a Azul estão recebendo aviões novos, que gastam 25% a 30% menos de combustível. Não muda muito o patamar das empresas e o custo operacional baixa muito. Com o governo alinhado, como nós estamos agora, a tendência é a gente conseguir mais rapidamente.

O Otimista – O combustível de aviação, então, é hoje o grande gargalo no fluxo de turistas?
Arialdo – Esse ano já subiu mais de 53%. A política nacional de combustíveis deve mudar com o novo governo. Hoje, a política da Petrobrás é voltada só para os acionistas. Então é lucro, lucro, lucro, sufocando setores e emprego. Quando você tem um custo muito alto de combustível, você está matando o emprego lá da ponta, na cadeia inteira. A cadeia de turismo tem mais de 70 setores, se for enumerar.

O Otimista – É possível medir e relacionar, diretamente, preço de combustível com valor do bilhete? 
Arialdo – Nesse momento, sim. Nós tínhamos, antes de 2019, um preço médio baixo. Mas neste momento, não. No mundo inteiro, o preço de passagem aérea está alto. Aumentou pelo menos 40%.

O Otimista – Isso vai impactar nesta alta estação? 
Arialdo – Não chega não. Uma hipótese: a pessoa tinha 20 mil reais para vir ao Ceará. Ela vai gastar 10 mil reais de bilhete aéreo e vai gastar aqui os outros 10 mil. Mexe um pouco na despesa, mas não é algo que deixarão de fazer. Porque aí tem o financiamento, o longo prazo. Você pode comprar o bilhete em até 12 vezes.

O Otimista – É justo imaginarmos que teremos menos dinheiro circulante aqui? 
Arialdo – Será mais. Em toda viagem, sempre gastamos mais do que deveríamos. A tendência é você resolver ali, na hora. Você quer consumir.

O Otimista – E a conversão de compra está muito ligada à emoção. 
Arialdo – Total. Principalmente, no setor turístico.

O Otimista – Por onde se deu a transformação do turismo do Ceará no que é hoje? 
Arialdo – Quando eu estava na Casa Civil, no governo Cid Gomes, o Estado desenvolveu muito a área de estradas, através do Bismarck Maia (então titular da Setur). O Cid é uma pessoa que planeja muito a expansão. Ele é muito preocupado com isso. Ele pegou o Estado sem nada, desenvolveu os projetos e foi atrás de realizá-los.

O Otimista – Qual a participação do senhor?
Arialdo – Nessa época, eu pedi para construir o Aeroporto de Jericoacoara. Eu estava na Casa Civil. Ele atendeu. Depois, as estradas. Sai da Casa Civil e fui para o Turismo, terminar as obras. CE-085, para Flecheiras, CE-040, para Aracati, e várias outras interligações, no Cariri e Serra Grande. Fomos reformar o teleférico de Ubajara e fazermos o de Juazeiro do Norte. Enquanto isso, a Latam nos procurou, para fazer um hub, mas desistiu.

O Otimista – Com a desistência, qual foi a reação do Estado?
Arialdo – Fomos preparando as leis. Um dia, quando a Gol e a AirFrance nos procuraram, estávamos com tudo pronto. Ficou fácil fechar com a AirFrance. Aí fomos atrás de desenvolver o Aeroporto de Fortaleza e terminar o Aeroporto de Jericoacoara.

O Otimista – Como foram as tratativas para a concessão do Aeroporto de Fortaleza? 
Arialdo – Foi na gestão Camilo, no primeiro ano. A Dilma ajudou muito. Haveria concessões e nós fomos lá, pedir para colocar o Ceará. Rapidamente, em menos de 15 dias, ela conseguiu, porque iria ficar quando fosse a licitação de Pernambuco. Iria demorar mais uns dois anos. Foi um ganho muito grande. Quando a AirFrance veio, a concessão já estava feita.

O Otimista – E em relação ao Aeroporto de Juazeiro do Norte? 
Arialdo – Era estadual e passamos para a Infraero, que fez a concessão. Já está em obras. Quer dizer: há uma mudança estrutural muito grande no Estado, com promoção e publicidade. Tivemos uma boa verba publicitária até 2018 – que depois ficou pequena. Mas, até 2018, nós conseguimos estabelecer outro patamar.

O Otimista – Como o kitesurf entrou nas atrações turísticas do Ceará?
Arialdo – Farejei o negócio, porque era tendência no mundo. Comecei a trabalhar na internet, mostrando que nós somos o melhor destino de kitesurf. Isso explodiu, em 2019. Chegamos a ter quase 450 mil kitesurfistas internacionais.

O Otimista – Qual foi o impacto? 
Arialdo – Isso mudou o turismo do Ceará na parte financeira. As pessoas têm muito mais poder aquisitivo. O kite é o esqui na água. Não é o esqui puxado por lancha nem nada. É o esqui puxado pela natureza. É outra ligação. Hoje, é uma tendência mundial. É um grande esporte de água no mundo, porque é mais barato, acessível, fácil e menos perigoso.

O Otimista – Como está a rede hoteleira no trade turístico do Estado? 
Arialdo – Optamos por trabalhar com hotelaria de até 50, 60 apartamentos. Tem um impacto ambiental menor do que se você fizer grandes resorts. Você distribui melhor. Nós trabalhamos isso. Hoje, nós temos mais de 100 pousadas sendo construídas nesse nicho no Estado.

O Otimista – No litoral e também em outras regiões? 
Arialdo – Sim. Quixadá, agora mesmo, inaugurou um hotel, que é bem interessante. Então, nós optamos por um turismo que, se você qualificar, vai para unidades menores. Você vai mudando, e você não tem uma cadeia só de hotel. Cada um tem uma história diferente. Nós estamos conseguindo fazer isso. Em Fortim, temos três ou quatro hotéis de qualidade. Você vai em um tour.

O Otimista – E o bacana é que as experiências não se repetem.
Arialdo – Não se repetem, porque a rede hoteleira é outra. Os serviços são outros. Mas, tudo voltado para a alta qualidade. Tanto é que nós temos pousadas de 800 reais a 7.000 reais a diária, nesses hotéis de médio porte.

O Otimista – E em Fortaleza?
Arialdo – Em Fortaleza, temos de repensar. Agora mesmo estão trabalhando. Sei que vai sair um (hotel) Emiliano em Fortaleza. É muito bom. O incentivo que a Prefeitura está fazendo na Praia do Futuro é legal. Mas tem que vender. Tem que ir buscar. Ficar aqui esperando não vai acontecer.

O Otimista – Qual o fluxo médio de turistas no Aeroporto de Jericoacoara? 
Arialdo – Hoje, fica na base de 440 mil passageiros. É mais ou menos uma João Pessoa (PB) ou Aracaju (SE). Não é para Jericoacoara. É para a grande região de Icaraizinho de Amontada à Bitupitá. É a região que o Aeroporto Regional de Jericoacoara abrange. Em 2023, será uma média de 600 mil – crescimento entre 40% e 50% ao ano. A tendência é trabalharmos para essa região ter um milhão de pessoas.

O Otimista – Quando o turista não passa por Fortaleza, não injetar recursos na Capital. Como equalizar isso? 
Arialdo – O problema de Fortaleza é lutar contra a atividade da Cidade. Quem vem de uma cidade grande quer colocar o pé no chão. A Praia do Futuro ainda é interessante por isso. A Beira-Mar também. Mas chamo a atenção para a manutenção. Se não existir uma manutenção enorme, pode estar sucateada em quatro, cinco anos. Essa manutenção não é feita. O setor tem que ir para cima.

O Otimista – Como está o turismo de eventos, considerando-se o Centro de Eventos do Ceará? 
Arialdo – O Centro de Eventos tem 10 anos. Pegou dois de pandemia. É grande. De julho até dezembro deste ano, não temos vagas. Se você quiser um evento, não temos vagas. Estamos lotados.

O Otimista – Mesmo sendo multiespaços?
Arialdo – Sim. Três eventos acontecendo, ao mesmo tempo, de médio a grande. E há muitos hotéis que têm seus centros de eventos. Isso tem ajudado muito. Fortaleza está com uma ocupação média de 76% a 78%. Isso é enorme, mesmo com uns dois ou três hotéis que vão virar prédios. Mas, nessa retirada, aconteceu algo muito bom: o preço elevou. Quando esses hotéis saíram, eu disse que iria melhorar. E o tíquete elevou. Mudou muito a perspectiva.

O Otimista – Qual a situação do Acquario, atualmente? 
Arialdo – Sempre que puxo a iniciativa privada para participar, há o empecilho do terreno, que é do Governo Federal. Quando o governador Camilo entrou, estávamos alinhados com o governo Dilma. Mas veio a espiral do impeachment e Bolsonaro. Ficamos desalinhados. Com o novo alinhamento político, vamos voltar e colocar na mesa.

O Otimista – Seria uma concessão nos moldes do que foi feito no Aeroporto de Fortaleza?
Arialdo – O Aeroporto de Fortaleza era da Base Aérea. Na época, com a Dilma, fomos negociar. Hoje, é tudo da Fraport. A concessão é dela, para desenvolver hotelaria ou o que quiser lá.

O Otimista – Qual é a ideia, a partir da cessão do terreno, por parte da União?
Arialdo – Pela dimensão dele hoje, você consegue fazer pela metade e pode colocar um centro de cultura, para a criança interagir com a ciência. Não é reduzir. É ser uma coisa junta. Você ter uma parte de ciência para a criança. Isso tem crescido muito em parques. Não é um parque de diversão. É parque de estudo.

O Otimista – O senhor fala em relação a convênios com instituições de ensino?
Arialdo – Com as universidades, todo mundo junto. Pode ter o aquário vivo, menor, e o aquário virtual. Estive na China e Inglaterra, vendo os aquários virtuais. É uma coisa fantástica. Dá para fazer hoje e mudar um pouco a óptica.

O Otimista – O senhor tem um histórico muito bom na coordenação de campanhas eleitorais. Como começou? 
Arialdo – Minha primeira campanha foi de Cid Gomes, em 2006. Eu nunca tinha feito. Não sabia o que era. Me diziam ‘Você se vira. Eu sei que você é capaz. Sei que você faz’. Então fomos. Comecei a montar a campanha. Nesse ano, acho que eu vi o Cid na campanha duas ou três vezes. Graças a Deus, fomos felizes e ganhamos no primeiro turno contra Lúcio Alcântara. Depois, eu fiz 2010. Reeleição de Cid, senadores e presidente. Em 2014, não estava mais querendo fazer campanha.

O Otimista – Foi a primeira eleição de Camilo.
Arialdo – Foi. Um dia, eu recebi um recado: ‘Rapaz, você tem que ajudar a gente’. Faltavam 37, 38 dias para a eleição. Assumi. Fiz um trabalho paralelo. Não fiquei no comitê. Fui trabalhar a eleição. Quando eu entrei, estava 42% a 17%. Em 35 dias, conseguimos ganhar o primeiro turno com 60 mil votos. No segundo turno, ganhamos fácil.

O Otimista – São etapas diferentes, outra campanha.
Arialdo – Não gosto de segundo turno. É uma coisa muito cara. Você tem de partir para ganhar ligeiro, no primeiro turno, como se fosse uma maratona. Você tem que chegar ali e ganhar. Se você for ao segundo turno, o risco é alto. Qualquer frase acaba a campanha. A atenção fica em só duas pessoas.

O Otimista – Mesmo se o candidato for competitivo? 
Arialdo – Fica tudo igual. Zera. Veja a Bahia agora (o petista Jerônimo Rodrigues virou em cima de ACM Neto, do União Brasil)

O Otimista – O que faz um histórico desses? Linha de comando, equipe ou candidato bom? 
Arialdo – Lógico que você tem que ter o fato do candidato. Eu, quando o Camilo e o Elmano me chamaram, eu farejei que o Elmano era o melhor candidato, como foi o melhor candidato. Era notório. Tinha menos rejeição, menos problemas, tinha uma base do PT muito forte. Você olhava e dizia: ‘esse aqui tem potencial’. Tanto que demonstrou. Houve o fator Lula, que logicamente foi muito forte também.

O Otimista – Foi o fator Lula que elegeu Elmano? 
Arialdo – Não vejo assim. O fator Camilo foi muito forte no Ceará. Aqui influenciou muito. Não foi nem o fator Lula. Em certo momento da campanha, ele era bem maior do que o Lula. O Elmano não era tão conhecido, mas foi votado por causa do Camilo. Houve transferência de votos. Para mim, o Camilo foi inquestionável.

O Otimista – O Camilo, futuro senador da República, será um bom embaixador do Ceará em Brasília? 
Arialdo – Eu vejo o Camilo sendo o sucessor do Lula, dentro do PT. Acredito que ele será um grande senador. Ele tem capacidade de negociação. É muito inteligente e moderado. Com essa base, uma pessoa como ele vai dar show no Senado. Ele vai conseguir transferir isso para ele em vez de ser um ministro.

O Otimista – Um ministério não o projetaria mais?
Arialdo – Ministro acaba sendo queimado. Só precisa de uma frase para queimar. Acredito que ele será um grande senador e será o sucessor de Lula, que ficará quatro anos, mas deverá fazer um sucessor.

O Otimista – Nesse cálculo da sucessão de Lula, o senhor considera a dinâmica do próprio PT, com outras possibilidades de candidatos? 
Arialdo – Isso é uma coisa para depois das eleições municipais. Agora, é todo mundo trabalhar. Eu luto muito e acredito que Lula vai fazer um grande mandato.

O Otimista – Como o alinhamento político com Brasília poderá beneficiar o Ceará? 
Arialdo – Bahia, Piauí e Ceará são as bolas da vez. Todos eles trabalharam muito para que o governo eleito esteja lá.

O Otimista – Qual sua expectativa para o governo Elmano Freitas? 
Arialdo – O governo Elmano vai ter que fazer muitos projetos. O Governo Federal sempre tem dinheiro, desde que você seja politicamente alinhado com ele. Isso é inquestionável. Dinheiro tem. O Elmano tem que trabalhar para fazer projetos inimagináveis. Megaprojetos. O Lúcio Alcântara não deixou nada. Deixou gavetas vazias. O Cid saiu fazendo. Estruturante, siderúrgica, hospitais. O Ceará, em 2006, não tinha um hospital no interior.

O Otimista – Como o senhor imagina o turismo do Ceará daqui a 10 anos? 
Arialdo – A indústria é 19% do PIB do Ceará. Eu acredito que, em 10 anos, a indústria do turismo seja maior do que a indústria tradicional. Somos voltados para os serviços. Os serviços cearenses são simpáticos, receptivos, humildes e trabalhadores.

O Otimista – Qual o papel do governo nesse processo? 
Arialdo – Rodar os projetos, acreditar e fazer publicidade voltada para a linguagem da internet, que é muito difícil. Essa publicidade da televisão não comunica como a da internet. Na internet, você tem cinco, dez segundos para falar e convencer. E acabou. Em 15 segundos, você já está de saco cheio.


O Otimista

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