‘Não é um estado seguro’, diz advogada após mortes de mulheres no Ceará

 

Entre as mortes, estão uma vereadora de Juazeiro do Norte, uma advogada e a própria mãe, uma professora e uma atendente de loja.



Advogada, professora, vereadora. Mulher. O Ceará teve, pelo menos, 39 vidas femininas interrompidas de forma violenta no primeiro bimestre de 2023. Os dados são da Secretaria da Segurança Pública do estado. Nesta sexta-feira (24), duas novas vítimas: uma advogada e a própria mãe

Entre as mortes de mulheres, a Secretaria classificou sete como feminicídios — tipificação que caracteriza o fato de ser mulher como preponderante para o crime, como, por exemplo, a morte da vereadora Yanny Brena, assassinada pelo namorado no último dia 3 de março, em Juazeiro do Norte. Após o crime, ele se matou.

A advogada Raquel Andrade avaliou com preocupação os casos de feminicídio e violência contra a mulher registrados em 2023 — especialmente porque, segundo ela, o Ceará aparece em 5º lugar do Brasil no ranking de casos com estas tipificações.

“O feminicídio ou a morte violenta de mulheres é o último indicar da violência. Quando a gente tem a informação que, por semana, pelo menos três mulheres sofrem algum tipo de violência, temos a constatação que o Ceará não é um estado seguro para mulheres”, comentou a diretora do Observatório da Violência contra a Mulher da Assembleia Legislativa do Ceará.

“Temos nossa dignidade e direito à vida constantemente ameaçados”, lamentou a advogada.

Raquel informou que em 75% dos casos de feminicídios e violências, os agressores são companheiros ou ex-companheiros. “Isso indica que, possivelmente, essas mulheres já vêm enfrentando uma situação de violência doméstica e familiar antes de terem a vida interrompida”, explicou.

Para Raquel, a violência contra a mulher é um problema social que não deve ser combatida apenas por pessoas do gênero feminino. “Não adianta tratar o feminicídio depois que ele acontece. Depois, o bem mais precioso, do ponto de vista jurídico e social, que a gente precisa proteger, a gente já perdeu, que é o direito a vida”, destacou.

Mortes de mulheres em 2023

Entre as mulheres mortas no Ceará, em 2023, estão a presidente da Câmara Municipal de Juazeiro do Norte, uma advogada e a própria mãe, uma professora e uma atendente de loja. Entre elas, um ponto em comum: os principais suspeitos são homens

No duplo homicídio mais recente, a advogada Rafaela Vasconcelos de Maria, de 34 anos, sofreu diversos tiros, um dele no rosto, e morreu em uma rua de Morrinhos, no interior do Ceará. A mãe dela, Maria Socorro de Vasconcelos, de 78 anos, chegou a ser socorrida, e foi levada ao Hospital Municipal, mas não resistiu aos ferimentos e morreu.

Já na quinta-feira, uma professora foi assassinada a tiros pelo companheiro em uma casa na cidade de Pacajus, Região Metropolitana de Fortaleza. O suspeito, de 44 anos, foi capturado e autuado em flagrante por feminicídio.

O Ceará também registrou a morte de Fabills Almeida, de 37 anos, que foi atacada com um golpe de faca em um posto de combustíveis do Bairro Parangaba, em Fortaleza. A agressão aconteceu após ela e o acusado protagonizarem uma discussão banal. O crime ocorreu no dia 4 de março, e a vítima morreu dois dias depois.

Um dia antes, a vereadora do PL, Yanny Brena Alencar, foi encontrada morta ao lado do namorado, Rickson Lívio Pinto, em Juazeiro do Norte. A Polícia Civil concluiu que o jovem de 27 anos matou a namorada, e logo depois se matou. Ele, inclusive, tentou forjar as mortes como duplo suicídio.

Perfis das vítimas

A advogada Raquel Andrade comentou que a violência contra a mulher não tem um perfil específico de vítimas, mas há determinadas características que são vistas com mais frequência.

“A violência contra a mulher tem raça, tem classe, mas não significa que não perpasse tragicamente toda a sociedade”, lamentou a advogada.

“Existem elementos da situação de vulnerabilidade que criam condições mais favoráveis para que o feminicídio aconteça; como a ausência de renda, a dependência financeira do agressor, a maternidade”, detalhou Raquel.

Um levantamento da Defensoria Pública do Ceará mostrou que 71,04% das vítimas de violência doméstica têm filhos com o agressor; e sofrem violência há mais de seis anos (40%). Entre as 518 entrevistadas, 82% se declarou parda ou preta.

“As mulheres em situação de vulnerabilidade social, sobretudo socioeconômico, e as mulheres negras, são as mais atingidas tanto em relação ao feminicídio, quanto em relação à violência doméstica e familiar”, explicou Raquel.

G1

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