Entenda o aumento da população indígena nos últimos anos no Ceará

 

O Censo 2022 reconheceu pouco mais de 56 mil pessoas indígenas no estado, enquanto o anterior, de 2010, contabilizou 19,3 mil pessoas indígenas.




O número de pessoas indígenas no Ceará quase triplicou desde o último recenseamento. Foram 56.353 pessoas que se declararam indígenas no Censo Demográfico 2022, divulgado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Em 2010, este número era de pouco mais de 19,3 mil. O aumento traz mais visibilidade às comunidades, que tiveram mais atenção na metodologia do censo.
Atualmente, o Ceará é o nono estado do Brasil com maior população indígena. O estado acompanha a tendência nacional de aumento da população indígena no último censo. Os dados foram divulgados nesta segunda-feira (7).
O número total inclui pessoas que informaram ser indígenas quando perguntadas sobre raça e cor. E as que também responderam uma pergunta adicional feita nas terras e comunidades mapeadas pelo IBGE: "você se considera indígena?".

Com esta pergunta, foi possível incluir pessoas que não responderiam ser indígenas porque poderiam priorizar a cor da pele na resposta, não para o pertencimento étnico, explica Fábio Jota, antropólogo e analista de povos e comunidades tradicionais do IBGE no Ceará.

Para o censo de 2022, houve mudança na metodologia. Como o trabalho de sensibilização e mapeamento de terras além das delimitadas pela Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai).

Assim, foram incluídos também territórios onde havia comunidades e lideranças indígenas. E os distritos sanitários com políticas de saúde voltadas para essa população, exemplifica Fábio. Em abordagens desde 2017, equipes do IBGE têm estabelecido diálogos com as lideranças indígenas.

"Uma coisa que ficou muito clara, agora vendo esses dados iniciais do censo, é que, além das melhorias metodológicas e do nosso esforço, as próprias comunidades indígenas se apropriaram desses instrumentos de autoidentificação como forma de ganhar visibilidade. Porque existe também nessas populações uma compreensão da importância que um dado oficial pode ter na hora de uma política pública", avalia Fábio Jota.

Ainda segundo o analista, houve forte engajamento das comunidades interessadas em conhecer e questionar os processos do recenseamento. Para ele, os dados demonstram um amadurecimento da mobilização destes povos.

"Muitos deles entraram em contato e disseram 'olha, (o censo) não veio ainda aqui, quando vem?'. É até interessante porque o problema do IBGE em outras áreas era que as pessoas não queriam receber o censo, tinha dificuldade. Nas áreas indígenas, a gente via contrário", compara Fábio.

A melhoria dos dados e a articulação dos técnicos do IBGE nos territórios indígenas é uma iniciativa elogiada por Juliana Alves, secretária dos Povos Indígenas do Ceará, pasta criada pelo governo estadual em 2022. A antropóloga também é conhecida como Cacika Irê do povo Jenipapo-Kanindé, no município de Aquiraz.

"A gente também consegue visualizar que, diante desse indicador, existe também direcionamento de orçamento para esses povos. Então, a gente ficou muito feliz com o número crescente de população para os povos indígenas no estado. Sabemos que poderia ser bem mais, pois a gente sabe que o Ceará é terra indígena", comenta a secretária.

Conforme Cacika Irê, a autodeclaração de mais pessoas indígenas reflete o orgulho que elas têm da própria etnicidade. Além disso, ela avalia que há uma expectativa destas pessoas em melhores condições de seguridade social proporcionada pelo estado.

Os primeiros dados do Censo mostram, também, os municípios onde houve mais pessoas indígenas em números absolutos, trazendo os municípios de Caucaia e Itarema nas primeiras posições.

Confira os cinco municípios com maior quantidade de pessoas indígenas:

  1. Caucaia: 17.628 indígenas
  2. Itarema: 5.115 indígenas
  3. Maracanaú: 5.111 indígenas
  4. Fortaleza: 4.948 indígenas
  5. Monsenhor Tabosa: 4.861 indígenas

Outro dado trazido é que 81% dos indígenas no Ceará residem fora das terras indígenas oficialmente delimitadas. Assim, apenas 10,5 mil pessoas indígenas moram em uma das sete terras consideradas pelo Censo.

Diante deste retrato, o desafio é como levar as políticas públicas específicas para as pessoas que estão fora das terras delimitadas.

"A partir do momento que as pessoas não estão no território, com o pertencimento territorial, elas deixam, de uma certa forma, de ser assistidas na saúde, na educação (em políticas voltadas para a população indígena)", explica Cacika Irê.

Ainda segundo a secretária, outro desafio para estas pessoas é manter viva a cultura indígena longe das comunidades e dos agrupamentos tradicionais.

Confira a distribuição por terras indígenas do Ceará:

  • Terra Indígena Tremembé de Queimadas (Itarema e Acaraú): 290 indígenas
  • Terra Indígena Córrego João Pereira (Itarema): 619 indígenas
  • Terra Indígena Tremembé da Barra do Mundaú (Itapipoca): 542 indígenas
  • Terra Indígena Pitaguary (Maracanaú e Pacatuba): 2.942 indígenas
  • Terra Indígena Lagoa Encantada (Aquiraz): 340 indígenas
  • Terra Indígena Taba dos Anacé (Caucaia): 463 indígenas
  • Terra Indígena Tapeba (Caucaia): 5.328 indígenas

Conforme explica o antropólogo Fábio Jota, as terras indígenas consideradas para a coleta e análise do censo incluíram terras que estavam na situação fundiária de declarada, homologada, regularizada e encaminhada como reserva indígena até a data de 31 de julho de 2022.


G1 

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