Membro de facção conta como agiu a favor e contra candidatos nas eleições 2020



Em conversas obtidas pela Delegacia de Repressão às Ações Criminosas Organizadas (Draco), integrante de uma facção criminosa aparece dizendo ter apoiado financeiramente políticos de municípios do Litoral Leste do Ceará nas últimas eleições municipais de 2020. Conforme as mensagens, apreendidas no celular de uma “conselheira” da facção Comando Vermelho (CV), também teria havido uma ordem proibindo campanha para aliados do deputado federal Capitão Wagner (Pros), que concorreu à Prefeitura de Fortaleza.

Rener Castro de Souza foi denunciado, junto com outras 11 pessoas, por crimes como integrar organização criminosa. A acusação foi apresentada à Justiça pelo Ministério Público Estadual na última terça-feira, 13, e aguarda recebimento. Rener afirma ter divulgado um “salve”, ou seja, uma mensagem em nome da facção com ordens, proibindo apoio a aliados de Capitão Wagner.

O faccionado ainda agradece à conselheira pela “força” que ela deu “por falar naquele negócio do Capitão Wagner”. A conselheira é Almerinda Marla Barbosa, conhecida como “Irmã Ruiva”, presa em novembro de 2020, em Jericoacoara. Relembre aqui.

Rener diz na conversa ter apoiado candidatos a prefeito e vereador de três municípios. “Graças a Deus deu tudo certo. (Em um município do Litoral Leste) ganhemo só prefeito, lá vereador eu perdi. Aí aqui em (outro município) ganhemo prefeito e vereador. (Em um terceiro município, ganhamos) prefeito e vereador, tu é doido” (SIC), diz ele em outro áudio. Em outra gravação, ele diz ter recebido agradecimento de um prefeito eleito — “pelo o que eu fiz”. “Ganhemo por causa de nós, né, do que nós fizemo. Muita gente não sabia desse salve aqui não, mana, ninguém sabia, bem dizer, porque o CV não é muito frequente aqui não, não tem esse negócio de grupo. É tanto que eu fiz um, bem dizer, da noite pro dia” (SIC). Ele chega a dizer em dado momento que está sem dinheiro, pois "tacou" tudo o que tinha "dentro da política".

Em retribuição à Almerinda por ela ter divulgado os salves, Rener prometeu dar a ela um terreno. Por fim, ele diz querer dar um tempo nas atividades criminosas a partir do começo das novas gestões. “Dia 1º de janeiro eu boto uma pessoa aqui, tá entendendo, pra ficar à frente, né, uma pessoa que depois se eu precisar voltar, que não tem o olho grande, está entendendo, e eu vou botar para gerar”. Rener chega a dizer que assumiria cargo em uma prefeitura, em que teria remuneração de R$ 7.500 e disporia de um carro.

Em outra conversa, Almerinda diz a uma terceira pessoa que cobra Rener “direto” para conseguir quitar uma dívida. Ela, então, diz que "isso ainda e da aquele oleo", que, para o MPCE, significa crack. Por isso, Rener também foi denunciado por tráfico de drogas.

Em nota, o Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco), que ofertou a denúncia, diz que as evidências sobre o envolvimento do faccionado nas eleições “estão sendo analisadas pelo MPCE, o qual decidirá sobre a necessidade de continuação e aprofundamento das investigações”. 

Além de Rener, foram denunciados pelo MPCE: Antônio Wesley Caetano de Sousa, o General; Daniel da Costa Leandro, o Babu; David Barbosa Teodorio, o PK ou Pequeno; Everton Luiz de Sousa Barbosa; Francisco José de Negreiro Lopes, o CH; José Alderi de Menezes, o Deca; José Divandir Marques, o Cora; Lucas Almeida Santana; Maria Capeline Martins Rodrigues; Maria Luciana Braz da Silva; e Rosilane Barbosa da Silva, a Diamante.

O POVO já havia mostrado outras suspeitas de envolvimento de facções criminosas com as eleições municipais de 2020. “Chegou ao nosso conhecimento muitas ocorrências envolvendo facções criminosas em diversos municípios”, afirmou o delegado Paulo Henrique Oliveira Rocha, coordenador da operação da PF nas Eleições 2020, em entrevista coletiva realizada ainda no primeiro turno das eleições, em 15 de novembro de 2020.

Entre as eleições que teriam tido interferência de facções está a de Maranguape, na Região Metropolitana de Fortaleza. Outra suposta liderança do CV, Francisco José dos Santos Freitas, o Zezim da Horta, aparece em interceptações telefônicas conversando com um vereador que viria a ser eleito sobre apoio no pleito. Ele ainda conversa com outros interlocutores sobre conversa que teria tido com um candidato a prefeito, entre outros.

Em um município do Sertão Central do Estado, a suspeita era de que o prefeito havia financiado integrantes de facção para que assassinassem pessoas relacionadas a um grupo criminoso. Já em Santa Quitéria, a 229 quilômetros da Capital, uma facção teria um plano para matar um dos candidatos à Prefeitura. Em Redenção, outro chefe do CV foi preso suspeito de compra de votos. Nas redes sociais, Bruno Rafael Nascimento Leandro, o "Rafael Finim", ostentava fotos com políticos do Maciço do Baturité.

Além disso, conforme o delegado Paulo Henrique Oliveira Rocha, Caucaia, na Região Metropolitana de Fortaleza, teve uma das eleições mais afetadas pela influência das facções. "Tanto é que, por exemplo, Caucaia culminou com o chamamento da Força Nacional de Segurança para reforçar o policiamento naquele município".


O Povo

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