A pandemia de Covid-19 causou grande transformação no
estilo de vida da maioria das pessoas, especialmente adolescentes que também
têm de lidar com as mudanças da idade. Nos primeiros estudos realizados em
vários países com respeito ao impacto do período pandêmico em jovens,
destacaram que 25% de crianças e adolescentes no mundo sofrem de depressão e
20% estão lutando contra a ansiedade. A Faculdade de Medicina da Universidade
de São Paulo (USP) constatou em sua pesquisa
uma proporção parecida com 7 mil crianças e adolescentes, em 2020 – primeiro
ano de pandemia -, no Brasil.
A Associação Americana de Psicologia comprovou que dos
3.300 estudantes do ensino médio no país, um terço se sentia “infeliz e
deprimido além do que o normal”. A amostra foi realizada no início deste ano.
Um estudo inglês
destacou ainda que as redes sociais podem afetar diretamente a autoestima de
jovens visto que nelas muitas pessoas são tidas com um certo padrão de beleza,
no qual se o jovem não se sentir inserido pode desencadear sérios problemas de
autoconfiança e psicológicos.
As universidades de Oxford e Cambridge, no Reino Unido,
também realizaram um estudo sobre o tema e certificaram que as redes sociais
afetam a vida da população. Foram analisadas 84 mil pessoas com idades entre 10
e 80 anos. Segundo o resultado, quanto mais jovem, maior é o impacto das redes
sociais na autoestima. Isso acontece porque nessa fase o cérebro sofre mudanças
principalmente por conta da puberdade, conforme constata a pesquisa.
Outro levantamento é com relação ao crescimento no uso de
redes sociais – hábito que aumentou durante a pandemia. Os números do
levantamento do Relatório Global de Perspectivas de Mídia 2022 da YouGov,
destacam que um terço dos adultos em todo o mundo passou mais tempo nas redes
sociais em 2021. Esse crescimento é um recorde se comparado com anos
anteriores. Cerca de 71% devem manter ou aumentar esse consumo ao longo de
2022. O relatório revela também hábitos de consumo de mídia em 17 mercados
internacionais, focado nos Estados Unidos da América (EUA) e no Reino Unido.
Preocupação
“Me preocupo muito, porque é difícil monitorar o conteúdo
que estão acessando e devido a dependência que pode causar”. Esse relato é da
cabeleireira, Munick Monteiro, que é mãe de Gabriela,17, e Mariana,10. Ela
acredita que dar atenção para as meninas nessa fase em que estão passando é
essencial para evitar o vício em redes sociais ou ter depressão.
Munick afirma que costuma conversar com as meninas a fim
de estipular um tempo moderado para ficar nas redes sociais. Elas procuram
fazer coisas em família juntos, mas nem sempre é fácil. Monteiro pede para que
Gabriela e Mariana desliguem os aparelhos até terminarem algumas tarefas.
“Enfim, uma luta diária”, brinca a mãe.
Ela acredita que as redes sociais podem sim contribuir de
alguma forma para que o jovem desenvolva algum transtorno. Inclusive ela, já
até pensou que as filhas estivessem desenvolvendo depressão porque no início da
pandemia elas queriam ficar mais isoladas e houve aumento do uso de celular.
Mais idas aos consultórios
Psicóloga, Wanessa Casulo afirma que houve aumento
substancial de problemas psicológicos nos últimos dois anos. Ela passou a
atender mais casos de depressão da faixa etária de 10 a 17 anos. A profissional
acredita que os motivos podem ser a restrição das aulas presenciais, falta de
interação e a insegurança em decorrência da situação relacionada à saúde de
modo geral.
Sobre o tempo gasto por jovens nas redes sociais, ela
afirma que o crescimento foi bem perceptível e que o tempo ocioso favoreceu a
atitude. Contudo, cabe levar em consideração a necessidade de acesso para aulas
remotas que reforçaram o aumento do uso dessas mídias. “A vida “perfeita” das
redes sociais acaba trazendo comparações com o outro, afetando a autoestima,
gerando insegurança e autocobrança”.
A especialista afirma ainda que a exposição exagerada
pode potencializar bullying, sobrecarga de informações, perda de autocontrole e
até mesmo prejuízos financeiros. Ela orienta ainda que as redes sociais
precisam ser usadas com cautela, consumindo o mínimo de tempo possível, para
que outras interações e atividades sejam mais ricas.
“Os prejuízos são diversos como: baixas habilidades
sociais, tempo gasto, ansiedade, baixa autoestima, insegurança, dentre outros
prejuízos”. Para ela, quanto menos tempo exposto nas redes sociais, melhor. Uma
das formas de contribuir para o controle dos pais no tempo gasto pelos filhos
no celular é proporcionar atividades diversas, tempo de qualidade com os filhos
e boa monitorização. “A presença dos pais é sempre indispensável”.
Pais devem ter atenção com excesso
Terapeuta Sistêmica, Dayane Melo já atendeu vários
adolescentes com quadros depressivos, tanto em Goiânia como em outras cidades e
estados. A profissional, no entanto, não concorda que haja alguma ligação entre
depressão e o uso excessivo de redes sociais. “Criança ou adolescente
depressivo só está trazendo uma história que os pais não olham. Algo do sistema
, por isso que desenvolve a depressão. Se o jovem usa em excesso a rede
social indica que ele tem uma falta. Então, o excesso de rede social não é o
problema, é a falta que ele traz. Por isso, ele vai para o excesso a fim de
preencher a falta que está trazendo”.
Ela afirma ainda que os pais devem olhar além disso
porque o uso excessivo já é o sintoma da depressão e não o motivo. A
profissional explica que a rede social serve de fuga, mas que não causa
depressão em ninguém. “Eu poderia até dizer que sim para escrever um artigo
bonito para os pais lerem e mostrarem para os filhos depois como justificativa.
Mas, a realidade é que o filho só está trazendo algo problemático que o pai não
olhou”.
Para conseguir trabalhar a depressão dos adolescentes ela
esclarece que é de suma importância que os pais arrumem a solução, ou seja
olharem para a própria história, sistema , organizar tudo para aprender a
cuidar de si para depois cuidar do filho. Segundo Melo, a maioria dos pais não
conseguem cuidar dos filhos porque não cuidam nem de si mesmos.
“Tem que olhar para o filho e não no excesso de rede
social. Olhar para o que está faltando para eles e cuidar deles , perceber o
que falta é do que o filho precisa. Quando o pai descobrir o que é, e dar ao
filho o que sente carência ele vai deixar de mexer em excesso nas redes
sociais”, conclui.