Com máximas acima de 40°C, Itapipoca e outras duas cidades registram os dias mais quentes do CE

 Monitoramento dos últimos 12 anos mostra os eventos extremos de calor entre os municípios cearenses



Não tem cearense que escape do calor, mas os moradores de Barro, Itapipoca e Jaguaribe, estão no topo das cidades com as maiores temperaturas, superando os 40 °C, dos últimos 12 anos. O monitoramento é feito pela Fundação Cearense de Meteorologia e Recursos Hídricos (Funceme) e abre um debate sobre o clima no Estado em relação ao desconforto térmico até aos prejuízos nos reservatórios de água.

A Funceme elaborou uma lista com os 10 dias mais quentes do Ceará, com o detalhamento da data e da cidade dos registros. Os dados são desde 2011, após a instalação de estações para medir esse indicador, até o momento.

Além disso, a normal climatológica da temperatura máxima – como é chamada a média desse valor num período de 30 anos – também foram elevadas, em cerca de 1 ºC em pelo 4 cidades cearenses. As informações estão disponíveis apenas para Fortaleza, Sobral, Guaramiranga e Barbalha.

As temperaturas máximas são atingidas por volta de 14h e esse ranking dos dias mais quentes se refere a eventos extremos. Ou seja, foram momentos específicos de muito calor. 

Barro, na Região do Cariri, aparece em 1º lugar na lista com 41,7 °C, em outubro do último ano. Jaguaribe acumula 3 das 10 datas de “calorão” no Estado, mas há municípios das regiões do Litoral Oeste, Maciço de Baturité, Sertão dos Inhamuns e Crateús, além da Serra da Ibiapaba

Ranking das máximas no Ceará

08/10/2022: 41,7 °C em Barro

22/08/2016: 40,8 °C em Itapipoca

08/01/2012: 40,6 °C Jaguaribe

29/10/2021: 40,4 °C Jaguaribe

09/10/2021: 40,4 °C Jaguaribe

24/11/2019: 40,2 °C Penaforte

10/12/2019: 40,2 °C Redenção

07/11/2015: 40,1 °C Aiuaba

06/10/2021: 39,6 °C Viçosa do Ceará

25/09/2011: 39,6 °C Crateús


Os dias mais quentes aconteceram, principalmente, no segundo semestre do ano – exatamente quando não há chuvas. Outubro, inclusive, é um mês mais crítico, como explica Meiry Sakamoto, gerente de meteorologia da Funceme.

“Outubro é o mês de maior incidência solar, é quando não tem nuvem mesmo, e as temperaturas são mais altas do que em outras épocas do ano”, detalha.

Em maio deste ano, após meses de chuvas intensas, o calor intenso que se prolonga até durante às noites voltou a ser uma queixa entre os cearenses.

Nós tivemos um registro de máxima aqui em Fortaleza, no dia 13 de maio deste ano, quando chegamos a 34ºC, na estação do Itaperi. Não é o dia inteiro, e nem todos os dias, mas tivemos esse momento”, completa Meiry sobre os picos de calor.

Além desses eventos extremos, a temperatura máxima média cresceu nos últimos 60 anos, como mostram os dados do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet). A chamada normal climatológica, monitorada nas 4 cidades com informações disponíveis, aponta a elevação do nível máximo de calor em cerca de 1 ºC

“Todo ano é mais quente do que o anterior, isso para o mundo inteiro, e está relacionado sim ao aquecimento global”, analisa Meiry Sakamoto. Apesar de estudos em relação às mudanças climáticas serem feitos num período de 100 anos, por exemplo, o aumento da normal climatológica no período é um alerta.

Isso acontece num contexto em que o planejamento urbano e a emissão de gases de efeito estufa, como explica Cleiton Silveira, professor do Departamento de Engenharia Hidráulica e Ambiental da Universidade Federal do Ceará (UFC).

"Esse aumento da temperatura global tem impacto nos dias e noites quentes e numa série de variáveis no sistema climático global. Então, é de se esperar que as ondas de calor e os dias sem chuva estejam mais recorrentes nos próximos anos", frisa.

CLIMA NO CEARÁ

As medições feitas pelo Inmet criam parâmetros de calor. Por isso, as normais climatológicas da temperatura máxima indicam se as cidades estão dentro ou fora da média dos últimos 30 anos.

O que os estudiosos percebem é o aumento gradativo desse indicador. Para se ter uma dimensão disso, em Fortaleza, o mês de maio está quase 1 ºC mais quente do que o mesmo período há 60 anos.

TEMPERATURA MÁXIMA DE FORTALEZA EM MAIO: 


1º período (1961 - 1990): 29,9 ºC

2º período (1981 - 2010): 30,4 ºC

3º período (1991 - 2020): 30,8 ºC

“Os dados do Inmet sugerem aumento de pelo menos 1 ºC da década da 1960 até 2020, e as agências de meteorologia do mundo inteiro já alertam porque isso afeta o clima”, acrescenta Meiry.

No Ceará, a repercussão disso pode ser na ampliação das áreas de semiárido ou em aridez. “Alguns cenários mostram que áreas do semiárido hoje podem se tornar áridas, na faixa litorânea é um subúmido e pode se tornar um semiárido", conclui. Um dos prejuízos, como exemplifica, é a evaporação intensa nos reservatórios de água.


POR QUE ISSO ACONTECE?

Cleiton Silveira explica que a redução das áreas verdes nas cidades eleva a temperatura, como observado na capital cearense. “No Cocó onde houve uma expansão da especulação imobiliária, o crescimento da cidade em alguns mangues, como no Vila Velha, há alguns anos".


Na Avenida Dom Luiz, parte da zona verde foi destruída e esse cuidado com a cobertura de concreto certamente tem impacto na temperatura da cidade

CLEITON SILVEIRA

Professor de Engenharia Hidráulica e Ambiental da UFC

Além disso, o aquecimento global resulta em fenômenos como o veranico, que reduz os dias de chuvas, causando dias mais quentes. 


"Quando está num período em que espera ter chuva e passam dias sem chover. No nosso estado, a quadra chuvosa costuma ocorrer de fevereiro a maio, mas a gente observa dias com pouca ou nenhuma chuva", completa Cleiton.

Por isso, o especialista propõe a criação de políticas públicas para geração de energia limpa e soluções de desenvolvimento sustentável. “Existem medidas globais e locais, como aumentar os espaços com zonas verdes, ativar medidas de preservação, educação Ambiental”, lista.

Diário do Nordeste

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