O ex-presidente Jair Bolsonaro voltou, neste sábado (16) em evento político no Rio de Janeiro, a questionar decisão do TSE (Tribunal Superior Eleitoral) que o tornou inelegível por oito anos após mentiras e ataques ao sistema eleitoral. ‘Me tornaram inelegível por quê?’, disse Bolsonaro a seus apoiadores.
Em sua fala, Bolsonaro relembrou de eleições passadas e disse que “decisões erradas têm o seu preço”. Citou de novo sua trajetória até a Presidência, ao ser eleito em 2018. Falou de seu governo (2019-2022) e da ascensão de Tarcísio de Freitas (Republicanos) até chegar ao Governo de São Paulo.
Bolsonaro falou ao lado do governador Cláudio Castro (PL) e do senador Flávio Bolsonaro (PL), seu filho mais velho. O evento misturou política e religião o tempo inteiro. Entre os apoiadores, havia bandeiras de Israel misturadas entre as do Brasil, assim como em ato recente na avenida Paulista, em São Paulo.
Um dia antes, enquanto o ministro Alexandre de Moraes, do STF, retirava o sigilo de depoimentos do inquérito que apura tentativa de golpe após as eleições de 2022, o ex-presidente participava de eventos em clima de campanha eleitoral.
Em trios elétricos, com apoiadores de verde e amarelo e discursos, Bolsonaro percorreu seis cidades do litoral do estado do Rio de Janeiro, apresentando candidatos a vereador e a prefeito nesses municípios da região dos Lagos.
Nesta sexta-feira, a divulgação de 27 depoimentos dados por militares, políticos e ex-assessores de Bolsonaro reforçou a suspeita investigada pela Polícia Federal sobre a atuação do ex-presidente no comando de uma trama para mantê-lo no poder e evitar a posse de Lula (PT).
Duas figuras-chave, os então comandantes do Exército, Marco Antônio Freire Gomes, e da Aeronáutica, Carlos Baptista Júnior, fizeram afirmações que implicam não só Bolsonaro, mas também seu ministro da Defesa, o general Paulo Sérgio Nogueira, e o então comandante da Marinha, o almirante Almir Garnier Santos.
Os depoimentos dos dois comandantes trazem detalhes de reuniões e pressões que apontam para uma discussão na alta cúpula da gestão Bolsonaro para a adoção de medidas de exceção que incluiriam a prisão de autoridades, como o presidente do TSE (Tribunal Superior Eleitoral), Alexandre de Moraes.
Bolsonaro já foi condenado pelo TSE por ataques e mentiras sobre o sistema eleitoral, por exemplo, e é alvo de diferentes outras investigações no STF. Neste momento, ele está inelegível ao menos até 2030.
Caso seja processado e condenado pelos crimes de tentativa de golpe de Estado, tentativa de abolição do Estado democrático de Direito e associação criminosa, o ex-presidente poderá pegar uma pena de até 23 anos de prisão e ficar inelegível por mais de 30 anos.
Bolsonaro ainda não foi indiciado por esses delitos, mas as suspeitas sobre esses crimes levaram a Polícia Federal a deflagrar uma operação que mirou seus aliados em fevereiro.
As próximas etapas são a finalização da investigação pela PF, análise da PGR (Procuradoria-Geral da República) e definição por parte do STF se Bolsonaro se transforma em réu para ser julgado em seguida pelo plenário. Caso não se justifique uma preventiva até lá, a eventual prisão dele ocorreria somente após essa última etapa, caso condenado.
O evento deste sábado teve como objetivo “bancar” a escolha do deputado federal Alexandre Ramagem (PL-RJ) como pré-candidato à prefeitura da capital.
A ida do ex-presidente tem como objetivo reunir bolsonaristas em torno do ex-diretor da Abin (Agência Brasileira de Inteligência), cuja indicação para a disputa foi colocada em dúvida após Ramagem se tornar alvo de investigação da Polícia Federal.
O evento ocorreu na quadra da escola de samba Mocidade Independente de Padre Miguel, na zona oeste da capital. A região foi umas das que ampliaram a vitória de Bolsonaro sobre o presidente Lula na cidade.
Presente no palanque, o governador Castro chegou a promover um almoço com aliados para cobrar apoio a Ramagem. A tentativa de articulação do governador, contudo, ainda não prosperou.
Após as operações da PF, interlocutores do governador passaram a indicar interesse em ampliar o número de candidaturas da base de seu governo. Uma delas é do deputado Marcelo Queiroz (PP).
A ida de Bolsonaro, neste cenário, serviu como pressão para Castro se associar ou não ao indicado pelo ex-presidente para a disputa.
A pré-candidatura de Ramagem se tornou uma incógnita após ele se tornar alvo de investigação sob suspeita de participação no monitoramentos ilegais feitos durante sua gestão na Abin.
A PF cumpriu em janeiro mandados de busca e apreensão no gabinete e no apartamento funcional de Ramagem, que também teve seu celular apreendido. O deputado nega as acusações.
A ala mais próxima do ex-presidente traça uma estratégia de colocar Ramagem como um perseguido político e alvo de uma conspiração entre o STF (Supremo Tribunal Federal), que autorizou a operação, e o governo Lula.
A ideia é que, assim, a disputa fique ainda mais polarizada com o prefeito Eduardo Paes (PSD), pré-candidato à reeleição, fazendo com que o engajamento gerado beneficie o parlamentar.
(Nicola Pamplona/Folhapress)